Quando Deus Prova a Nossa Fé: Entre a Promessa e o Sacrifício

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Quando Deus Prova a Nossa Fé: Entre a Promessa e o Sacrifício

A fé é celebrada com entusiasmo nos momentos de conquista. Quando a porta se abre, quando o milagre acontece, quando a oração é respondida, é fácil dizer: “Deus é fiel.” Nessas horas, a confiança parece natural, o coração está em paz e tudo parece estar no lugar. Mas a verdadeira fé não se revela apenas na bonança — ela se manifesta com profundidade quando somos levados ao limite.

Foi exatamente isso que aconteceu com Abraão. Depois de anos esperando, chorando, crendo — Isaque nasceu. O filho da promessa. O milagre que ele carregava nos braços. E então Deus o surpreende com um pedido que parece contraditório: “Toma teu filho, teu único filho, a quem amas… e oferece-o em sacrifício” (Gênesis 22:2). Essa não é apenas uma história sobre obediência. É uma história sobre fé levada ao extremo. Sobre confiança que não depende de lógica. Sobre entrega que nasce da intimidade.

Na rotina da vida, há momentos em que tudo parece encaixar. A fé está tranquila. O coração está leve. E então, Deus nos surpreende com uma prova que confronta, fere e confunde. Pode ser o emprego dos sonhos que finalmente chegou, depois de meses de oração e espera. Tudo parece perfeito, mas Deus começa a inquietar o coração: “Será que é aqui mesmo que você vai cumprir o propósito?” Pode ser o filho tão esperado, fruto de lágrimas e tratamentos, que agora exige entrega, confiança e renúncia em meio a desafios inesperados.

Há também quem esteja em um relacionamento estável e feliz, com planos de futuro e sonhos compartilhados, e então Deus começa a mostrar que aquele vínculo não é o centro da Sua vontade. Ou ainda, famílias que vivem em paz, com saúde e estabilidade, e são surpreendidas por uma crise, uma doença, uma perda. E a fé que antes estava confortável agora precisa se levantar em meio à dor. Até mesmo no ministério, quando tudo parece florescer, Deus pode pedir algo que parece contraditório: deixar o palco, voltar ao secreto, mudar de cidade, entregar o microfone.

Esses momentos são como o monte Moriá de Abraão. Tudo parecia estar no lugar — e então Deus pede o que é mais precioso. Não para destruir, mas para revelar. Não para punir, mas para purificar.

O texto bíblico começa com uma frase que carrega peso: “Depois dessas coisas, Deus pôs Abraão à prova” (Gênesis 22:1). A prova veio depois da promessa, depois da espera, depois do milagre. Isso nos ensina que Deus não prova os fracos — Ele prova os preparados. Em Deuteronômio 8:2, Deus explica ao povo que os guiou pelo deserto “para te humilhar, e te provar, para saber o que estava no teu coração.” A prova não é sobre o que Deus não sabe — é sobre o que nós ainda não enxergamos.

Abraão não hesita. Não questiona. Não negocia. Ele apenas responde: “Eis-me aqui.” Essa resposta revela mais do que disposição — revela rendição. Abraão não sabia o que Deus faria, mas sabia quem Deus era. E isso foi suficiente.

A fé verdadeira obedece mesmo sem entender. Abraão se levanta de madrugada, prepara tudo e parte. Sem saber o que vai acontecer. Sem entender o porquê. Mas com o coração firme. Hebreus 11:8 diz: “Pela fé Abraão, sendo chamado, obedeceu indo para um lugar que havia de receber por herança; e saiu sem saber para onde ia.” Ele não tinha mapa — mas tinha direção. Não tinha garantias — mas tinha convicção.

Provérbios 3:5–6 nos ensina: “Confia no Senhor de todo o teu coração, e não te estribes no teu próprio entendimento. Reconhece-o em todos os teus caminhos, e Ele endireitará as tuas veredas.” Abraão sabia que Isaque era a promessa. Mas ele confiava mais no Deus da promessa do que na promessa em si. Ele sabia que Deus era capaz de ressuscitar, de prover, de intervir — mas mesmo que não fizesse nada disso, ele obedeceria.

No momento exato, quando Abraão levanta o cutelo, Deus intervém: “Agora sei que você teme a Deus, porque não me negou seu filho, seu único filho” (Gênesis 22:12). A prova não era sobre Isaque — era sobre Abraão. Deus queria ver se Abraão confiava mais na promessa ou no Prometedor. Pedro escreve: “Nisso exultais, ainda que agora… sejais por um pouco de tempo afligidos com várias provações, para que a prova da vossa fé… redunde para louvor, glória e honra na revelação de Jesus Cristo” (1 Pedro 1:6–7). Ou seja, a prova não é o fim — é o processo que nos leva ao propósito.

E então, Abraão levanta os olhos e vê o carneiro preso no arbusto: “Abraão ergueu os olhos e viu um carneiro preso pelos chifres num arbusto” (Gênesis 22:13). A provisão já estava lá — mas só foi revelada depois da obediência. Deus não brinca com nossa dor. Ele não testa por capricho. Ele prova para promover. Para revelar. Para transformar.

Abraão desceu daquele monte diferente. Não apenas porque Isaque estava vivo — mas porque ele viu Deus de uma forma que nunca tinha visto antes. Romanos 4:20–21 diz: “Não duvidou da promessa de Deus por incredulidade, mas foi fortalecido na fé, dando glória a Deus, estando plenamente convicto de que Ele era poderoso para cumprir o que prometera.”

A fé que se entrega é a fé que transforma. A fé que obedece é a fé que amadurece. A fé que confia é a fé que revela o caráter de Deus. Hoje, talvez Deus esteja te chamando ao monte Moriá. Talvez Ele esteja pedindo algo que você não quer entregar. Talvez Ele esteja provando sua fé — não para te ferir, mas para te formar.

E se você confiar… Se você obedecer… Se você se entregar… Você verá que o Senhor proverá. Você verá que a fé que se entrega é a fé que transforma. Você verá que a prova não foi o fim — foi o começo de uma nova dimensão com Deus.

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