A Adoração que Agrada a Deus: Reflexões Bíblicas sobre Nossa Postura no Culto
Por Paulo Eduardo Martins
Resumo: Este artigo aborda a necessidade de alinharmos nossa maneira de cultuar ao Senhor com os princípios estabelecidos na Palavra de Deus. Através de uma análise bíblica, reflete-se sobre atitudes comuns entre cristãos, como a rejeição de determinados louvores, críticas às pregações, a negligência à Ceia do Senhor e a desvalorização de reuniões de oração e estudo bíblico, propondo uma mudança de perspectiva para que o culto seja centrado em Deus, e não em preferências pessoais.
Introdução
Vivemos em uma era em que o individualismo permeia até mesmo as esferas espirituais. No contexto da igreja, é comum ouvir frases como: “Não gosto desse louvor”, “Essa pregação não me agrada” ou “Não acho necessário participar da Ceia todos os domingos”. Há ainda aqueles que desvalorizam as reuniões de oração e os estudos bíblicos, considerando-os dispensáveis. Tais posturas revelam uma tendência preocupante: o culto, que deveria ser uma expressão de reverência e obediência a Deus, muitas vezes é moldado por preferências pessoais. Contudo, a Bíblia nos ensina que a adoração verdadeira não é sobre o que nos agrada, mas sobre o que agrada ao Senhor. Este artigo busca, à luz da Palavra, convidar os irmãos a uma reflexão profunda sobre nossa postura no culto e a um realinhamento com os propósitos divinos.
O Louvor: Uma Oferta a Deus, Não a Nós
O louvor é um dos pilares do culto cristão, mas frequentemente é avaliado com base em gostos pessoais. “Não gosto desse louvor”, dizem alguns, como se o objetivo fosse entreter os adoradores. A Escritura, porém, apresenta uma perspectiva diferente. Em Hebreus 13:15, lemos: “Por meio de Jesus, pois, ofereçamos a Deus, sempre, sacrifício de louvor, que é o fruto de lábios que confessam o seu nome”. O louvor é um sacrifício, uma oferta a Deus, não um show para nosso deleite. Quando Davi dançava diante da arca (2 Samuel 6:14-16), ele não se preocupava com a aprovação dos homens, mas com a glória de Deus. Mesmo diante das críticas de Mical, sua resposta foi clara: “Perante o Senhor me alegrei” (2 Samuel 6:21).
Além disso, é preocupante observar a proliferação de louvores egocêntricos, nos quais o foco parece recair sobre o homem, suas emoções e conquistas, em vez de sobre o Senhor. Tais cânticos, por vezes, exaltam a criatura ao invés do Criador, invertendo a ordem estabelecida em Romanos 1:25, que alerta contra aqueles que “adoraram e serviram à criatura em lugar do Criador”. Se o louvor é para Deus, nossa preferência musical ou emocional não deve ser o critério, mas sim a pergunta: “Este louvor exalta o nome do Senhor? Ele reflete Sua santidade e verdade?”. Que possamos abandonar o “eu gosto” e rejeitar o egocentrismo, abraçando o “Deus merece”.
A Pregação: A Voz de Deus à Igreja
Outro aspecto que gera insatisfação é a pregação. “Não era essa a palavra que eu queria ouvir” ou “Ele só prega sobre isso” são queixas que ecoam em muitos corações. No entanto, a pregação não é um discurso humano ajustado aos desejos da congregação, mas um canal pelo qual Deus fala ao Seu povo. Em 2 Timóteo 4:2, Paulo exorta: “Pregue a palavra, esteja preparado a tempo e fora de tempo, repreenda, corrija, exorte com toda a paciência e doutrina”. O pregador fiel não escolhe temas para agradar, mas para obedecer.
A Palavra ainda adverte sobre a tentação de buscar mensagens que apenas confortem. “Pois virá o tempo em que não suportarão a sã doutrina; pelo contrário, sentindo coceira nos ouvidos, juntarão mestres para si mesmos, segundo os seus próprios desejos” (2 Timóteo 4:3). Quando rejeitamos uma pregação por não atender às nossas expectativas, corremos o risco de fechar os ouvidos àquilo que Deus deseja nos ensinar. Que tal, em vez de criticar, orarmos pelo pregador e nos dispormos a ouvir com humildade?
A Ceia do Senhor: Um Privilégio e Uma Ordem
A participação na Ceia do Senhor é outro ponto de negligência. Alguns dizem: “Não preciso participar todo domingo, não acho necessário”. Contudo, a Ceia não é uma opção, mas uma ordenança de Cristo. Em Lucas 22:19, Jesus disse: “Fazei isto em memória de mim”. Os primeiros cristãos entenderam isso como parte essencial do culto, pois “no primeiro dia da semana, estavam reunidos para partir o pão” (Atos 20:7). Reunir-se ao redor da mesa do Senhor é um privilégio que nos conecta à morte e ressurreição de Cristo, proclamando Sua obra até que Ele venha (1 Coríntios 11:26).
Ignorar ou menosprezar a Ceia é desvalorizar o sacrifício de Jesus e o chamado à comunhão com os irmãos. Não se trata de uma imposição legalista, mas de uma oportunidade de lembrar quem somos em Cristo. Se temos a bênção de nos reunir semanalmente, por que recusar esse presente?
Reuniões de Oração e Estudo Bíblico: Alicerces da Vida Espiritual
Além disso, há quem diga: “Não tem valor participar das reuniões de oração ou dos estudos bíblicos”. Essa visão reflete uma perigosa desvalorização dos meios que Deus providenciou para nosso crescimento espiritual. Em Atos 2:42, vemos que os primeiros cristãos “perseveravam na doutrina dos apóstolos, na comunhão, no partir do pão e nas orações”. A oração coletiva é um ato de dependência de Deus e fortalecimento mútuo, enquanto o estudo bíblico nos firma na verdade. Hebreus 10:24-25 nos exorta: “Consideremo-nos também uns aos outros, para nos estimularmos ao amor e às boas obras, não deixando de reunir-nos, como é costume de alguns”.
Quem negligencia essas reuniões muitas vezes se enfraquece espiritualmente, tornando-se vulnerável às tentações e ao esfriamento da fé. Como lâmpadas que precisam de óleo, nossa vida espiritual depende da comunhão com os irmãos e da Palavra. Menosprezar esses momentos é abrir mão do suprimento que Deus oferece à Sua igreja.
Cultuar do Jeito de Deus, Não do Nosso
Por trás dessas atitudes – rejeitar louvores, criticar pregações, negligenciar a Ceia ou desprezar as reuniões de oração e estudo – está um desejo sutil de moldar o culto segundo nossa vontade. Mas a adoração verdadeira não é sobre o “meu jeito”. Em João 4:23-24, Jesus declara: “Os verdadeiros adoradores adorarão o Pai em espírito e em verdade, pois são esses que o Pai procura para seus adoradores. Deus é espírito, e é necessário que os seus adoradores o adorem em espírito e em verdade”. Cultuar em verdade significa submeter-nos à Palavra; em espírito, significa oferecer nosso coração sem reservas.
A história de Caim e Abel (Gênesis 4:3-5) nos alerta sobre os perigos de cultuar segundo nossas próprias regras. Abel ofereceu o que Deus pediu, e sua oferta foi aceita; Caim ofereceu o que quis, e foi rejeitado. Que nossa adoração seja como a de Abel: conforme a vontade de Deus, não a nossa.
Conclusão
O culto ao Senhor não é um espaço para satisfazer preferências pessoais, mas para glorificar a Deus e edificar a igreja. O louvor é para Ele, livre de egocentrismo; a pregação é d’Ele; a Ceia é por Ele ordenada; e as reuniões de oração e estudo são dons para nosso fortalecimento. Que possamos abandonar o “eu acho” e nos render ao “assim diz o Senhor”. Que o Espírito Santo nos conduza a uma adoração que reflita humildade, obediência e amor, para que, como igreja, sejamos agradáveis aos olhos do Pai. Reflitamos: estamos cultuando para Deus ou para nós mesmos? Que a Palavra nos guie à mudança necessária.
—
Referências Bíblicas:
– Hebreus 13:15
– 2 Samuel 6:14-21
– Romanos 1:25
– 2 Timóteo 4:2-3
– Lucas 22:19
– Atos 20:7
– 1 Coríntios 11:26
– Atos 2:42
– Hebreus 10:24-25
– João 4:23-24
– Gênesis 4:3-5